A nova onda de protestos, que ocorrem já desde a semana passada, veio em resposta a uma reunião secreta realizada por membros do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) com neonazistas para discutir um plano para deportar milhões de estrangeiros.
Manifestações foram registradas também em cidades como Kassel, Wuppertal, Karlsruhe e Erfurt, além de em municípios menores e vilarejos, com alguns erguendo cartazes que faziam alusão ao nome do partido ultradireitista: "O fascimo não é uma alternativa".
Em Frankfurt, cerca de 35 mil pessoas se juntaram a uma marcha em "defesa da democracia". Os manifestantes lotaram a praça central da cidade, para onde estava planejado o protesto, bem como uma segunda praça próxima e as ruas intermediárias. A polícia informou que o ato foi pacífico.
Um dos organizadores, Peter Josiger, disse que o plano de deportação discutido na reunião secreta é "nada menos que um ataque com base na nossa coexistência". Ele ainda fez um apelo por "uma postura ativa contra a direita por parte de toda a sociedade".
Em Hannover, o ex-presidente alemão Christian Wulff e o governador do estado da Baixa Saxônia, Stephan Weil, se dirigiram aos cerca de 35 mil manifestantes na Praça da Ópera. Os presentes carregavam faixas com frases como "Somos diversos" e "Votar na AfD é tão 1933", referindo-se ao ano em que o ditador nazista Adolf Hitler tomou poder na Alemanha.
Atos em mais de 100 cidades
Outros 30 mil compareceram à marcha na cidade ocidental de Dortmund. A polícia ainda estimou a presença de 20 mil manifestantes em Stuttgart, 12 mil em Kassel, 7 mil em Wuppertal, 20 mil em Karlsruhe, pelo menos 10 mil em Nurembergue, cerca de 16 mil em Halle (Saale) e 5 mil em Koblenz.
Ao todo neste fim de semana, são esperados atos em mais de 100 cidades alemãs. Neste domingo, foram convocados protestos em Berlim, Munique, Colônia, Dresden, Leipzig e Bonn.
Na sexta-feira, uma grande manifestação ocorreu em Hamburgo, sendo o maior protesto do tipo até agora. O ato teve que ser interrompido mais cedo após reunir muito mais gente do que o esperado. A polícia estimou a presença de 50 mil pessoas, enquanto organizadores falam em 80 mil, frisando que o número seria maior se a manifestação não tivesse sido encerrada antes de muitos conseguirem chegar.
Por que tantos protestam agora?
A reunião secreta realizada por membros da AfD gerou indignação em todo o país quando veio à tona há dez dias. Ela ocorreu em Potsdam em novembro e teria incluído ainda políticos da União Democrata Cristã (CDU), partido da ex-chanceler federal Angela Merkel, hoje a maior sigla da oposição.
O caso foi revelado primeiramente pelo site de jornalismo investigativo Correctiv, e depois confirmado pela AfD em 10 de janeiro. A legenda, contudo, nega quaisquer planos de adotar tal proposta e afirma que não se tratava de um evento partidário.
A reportagem informou que, durante a reunião, um líder extremista austríaco, Martin Sellner, apresentou um plano para expulsar da Alemanha milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.
No encontro, discutiu-se a chamada "remigração", um termo frequentemente usado nos círculos de extrema direita como um eufemismo para a expulsão de imigrantes e minorias, incluindo alemães naturalizados.
O caso chocou muitos na Alemanha, num momento em que a AfD está em alta nas pesquisas eleitorais antes de três grandes eleições regionais no Leste do país, onde o apoio ao partido é mais forte.
A reação dos políticos alemães
O chanceler federal Olaf Scholz – que no fim de semana passado compareceu a um protesto ao lado da ministra do Exterior, Annalena Baerbock – disse que qualquer plano de deportar estrangeiros representa um "ataque contra a democracia e, por sua vez, contra todos nós".
Scholz ainda apelou aos alemães "para que tomem uma posição – pela coesão, pela tolerância, pela nossa Alemanha democrática".
A ministra do Interior, Nancy Faeser, atentou para o fato de que a reunião secreta ocorreu num hotel em Potsdam, perto de onde o partido nazista, em 20 de janeiro de 1942 – exatamente 82 anos atrás – coordenou a chamada "Solução Final" e discutiu o assassinato sistemático de milhões de judeus na Europa.
"Isso involuntariamente traz de volta memórias da terrível Conferência de Wannsee", declarou a ministra ao grupo de mídia Funke neste sábado.
Faeser destacou que não tem intenção de comparar os dois eventos, mas disse ser importante deixar claro que "o que está escondido por trás de termos que parecem inofensivos como 'remigração' é a ideia de expulsar e deportar pessoas em massa devido à sua origem étnica ou suas opiniões políticas."
Na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, o governador Hendrik Wüst, da CDU, fez um apelo por uma "aliança de centro" entre todos os partidos e níveis de governo.
"Precisamos que os democratas estejam unidos", afirmou ele, chamando a AfD de um "perigoso partido nazi" que não se baseia na Constituição alemã.
Já Friedrich Merz, líder da CDU, disse ser "muito encorajador que milhares de pessoas se manifestem pacificamente contra o extremismo de direita". Ele não comentou o fato de que membros de seu partido estiveram presentes na reunião de Potsdam.
ek (AFP, DPA, AP)