Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, foi mais esperto – ou descuidado. Às vésperas do golpe de 8 de janeiro, viajou aos Estados Unidos onde estava Bolsonaro. E voltou de lá sem o celular. Perdeu-o, foi o que simplesmente disse.
Nos celulares de Mauro Cid foram encontradas mensagens que o comprometem, e à sua mulher, Gabriela Santiago, com a falsificação de certificados de vacina contra a Covid-19 e a tentativa fracassada de golpe para anular os resultados das eleições vencidas por Lula em 2022 e perdidas por Bolsonaro.
Gabriela já foi ouvida pela Polícia Federal que guarda em segredo o que ela contou. Mauro Cid já foi ouvido mais de uma vez – somente ontem, durante 10 horas. Ninguém passa tanto tempo calado só ouvindo perguntas. É verdade que pode passar tanto tempo mentindo, mas quanto mais mentir, pior para ele.
Será inevitável que o general Mauro Lourena Cid acabe sendo chamado a depor. Vai ter que explicar por que uma das joias roubadas por Bolsonaro foi parar em suas mãos. Há fotos dele com ela. E porque parte do dinheiro apurado com a venda de outras joias foi depositada por ele, general, na conta de Bolsonaro.
Pai e filho envergonharam a farda que ainda vestem, e seus colegas de caserna. O que os colegas dirão à tropa? Que pai e filho, supostos discípulos de Caxias, o patrono do Exército, não souberam ou não quiseram dizer não às vontades de um ex-capitão, órfão da ditadura, que só pensava em ficar rico, e ficou?
No momento, o que parece interessar à Polícia Federal é o conteúdo dos quatro celulares tomados de Frederick Wassef, conhecido como Wasséfalo, um dos advogados de Bolsonaro. São mais de mil gigabytes de informações. Wasséfalo diz ter recomprado com seu dinheiro o Rolex que Bolsonaro roubou.
Recomprou para quê? Para devolvê-lo ao Estado brasileiro, dono das joias roubadas, apagando assim o crime cometido – mas isso Wasséfalo não diz. Dirá uma mentira qualquer para salvar a própria face, e a do seu patrão. Por ora, a Polícia Federal não tem pressa em interrogá-lo. Ouvirá primeiro os quatro celulares.
É o que Bolsonaro mais teme. Wasséfalo sempre foi um boquirroto, exibicionista e franco atirador. Faz o que lhe dá na cabeça. Mas é improvável que tenha resgatado o Rolex por sua própria conta e risco, e gastando do seu bolso. Cumprida a missão, ele entregou o relógio a Mauro Cid, que agora chora pelo pai,
Wassef pode ser mais Wasséfalo do que Wassef, mas não é de rasgar dinheiro. Pelo menos o dele, não. Só acumula. E é grato ao seu cliente preferencial. Bolsonaro é que é ingrato com todo mundo que o ajuda. Uma hora vai pagar por isso.