Documento do Ministério Saúde contraindica cloroquina, azitromicina e ivermectina contra a Covid-19
Os medicamentos são divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro para o tratamento da doença
Segundo o parecer, as contraindicações concentram-se no uso hospitalar
Um documento elaborado pelo Ministério da Saúde não recomenda o uso de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina e ivermectina, amplamente divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para o tratamento de pacientes hospitalizados com coronavírus.
Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o documento, chamado "Diretrizes Brasileiras para Tratamento Hospitalar do Paciente com Covid-19", começou a ser avaliado na última quinta-feira (13) na Conitec, comissão que analisa a inclusão de medicamentos e protocolos de tratamentos no SUS (Sistema Único de Saúde).
O parecer foi feito por um grupo técnico formado na gestão do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e coordenado pelo professor Carlos Carvalho, da USP (Universidade de São Paulo). A previsão é de que o documento seja colocado em consulta pública na próxima semana por 10 dias.
As contraindicações, porém, concentram-se apenas no uso hospitalar. Com isso, o Ministério da Saúde ainda não se manifesta sobre outros pontos, como o uso precoce defendido por Bolsonaro,
O documento, segundo a Folha de S.Paulo, diz que "não há evidência de benefício" da cloroquina "seja no seu uso de forma isolada seja em associação com outros medicamentos". Pacientes que já usavam cloroquina ou hidroxicloroquina devido a outras condições de saúde (como doenças reumatológicas e malária) devem manter o tratamento.
O texto também contraindica o uso de azitromicina em conjunto ou separadamente desses remédios. A exceção é para casos de presença ou suspeita de infecção bacteriana, quando deve ser usada de acordo com as diretrizes do hospital.
A avaliação incluiu corticoesteroides, anticoagulantes, antimicrobianos, tocilizumabe, azitromicina, casirivimabe associada ao imdevimabe, remdesivir, plasma convalescente, ivermectina, colchicina e lopinavir/ritonavir.
Segundo o documento, poucas terapias farmacológicas mostraram-se eficazes na análise para tratamento da Covid-19: "À exceção de corticoesteroides e do tocilizumabe, ambos em pacientes com uso de oxigênio suplementar, não há outras terapias que mostraram benefício na prevenção de desfechos clinicamente relevantes como mortalidade e evolução para ventilação mecânica".
O parecer aponta que "algum benefício marginal" pode ser obtido com o uso de remdesivir, primeiro tratamento aprovado pela Anvisa para uso contra Covid no país. "Contudo seu alto custo, baixa experiência de uso e incertezas em relação à efetividade não justificam seu uso de rotina", diz o texto, indicando que há baixa chance de que ele seja oferecido no SUS.
Na prática, o documento indica o uso de alguns remédios, como dexametasona e tocilizumabe, em casos específicos, como o de pacientes em uso de oxigênio e diante de orientações. Anticoagulantes também entram na recomendação em alguns casos.
Embora o documento tenha como foco apenas o uso em pacientes hospitalizados, parte das evidências consultadas para elaboração das diretrizes e citadas no texto aponta ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina também para casos leves. Nenhuma indica o remédio para Covid.
Técnicos do órgão, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, temem sofrer retaliação de integrantes do governo caso sejam instados a responder sobre o uso da cloroquina como tratamento precoce.