Bolsonaro não gosta de vacinas. Na verdade, nunca gostou. Ao menos vacinas contra a Covid. Outras, eu não sei. Não à toa ter boicotado cada tentativa de imunizar a população contra esse maldito novo coronavírus.
A Pfizer, por exemplo, nos ofereceu ainda em agosto do ano passado 70 milhões de doses do imunizante que é o mais eficaz e utilizado em todo o mundo. Porém o verdugo do Planalto recusou, tal como em outras dezenas vezes com as demais vacinas. Um dos motivos: não queria virar jacaré.
Nesta semana, o Brasil e o mundo assistiram, chocados, a mais uma chacina em uma favela carioca. Até o momento, trinta mortos foram identificados. A operação policial que pretendia desbaratar quadrilhas de traficantes, desbaratou, também, vidas inocentes. Tudo como dantes, afinal.
As trinta pessoas brutalmente assassinadas na comunidade do Jacarezinho não tomaram vacina, e mesmo assim eram “jacarés”, se é que me entendem a ironia. Em comum com o resto da sociedade brasileira, o fato de encontrarem-se como as demais centenas de milhares de moradores desta ou de outras favelas Brasil afora, ou seja, abandonadas pelo Estado.
Não é só Jair Bolsonaro que abandona os pobres à própria sorte. Nossa história é pródiga em nos apontar sucessivos governos e governantes corruptos, fisiológicos e incapazes ao longo dos séculos. Porém nenhum outro político alçado ao cargo máximo da nação encarnou tão bem o sentimento de “foda-se” pelo povo.
Bolsonaro e os bolsonaristas – veladamente ou assumidamente – comemoraram a chacina. O próprio vice-presidente Mourão declarou, “era tudo bandido”, reduzindo todos os mortos à condição de criminosos condenados à pena de morte, algo que, ao menos oficialmente, não existe no Brasil.
Cerca de 70% do território do Rio de Janeiro é dominado pelo crime organizado, e as milícias, ao lado dos traficantes, comandam boa parte da cidade. Milícias estas, aliás – ou algumas delas, ao menos – amigas ou funcionárias do clã Bolsonaro. De tão próximo desse pessoal, talvez Jair e seus pimpolhos tenham se acostumado à violência e mortes, e por isso reproduzem, no Poder, o mesmo “modus operandi”.
Ao não combater as queimadas ilegais; ao incentivar todo tipo de violência policial e preconceito contra pobres, pretos e outras minorias; ao defender leis que podem legalizar o assassinato oficial, como o tal excludente de ilicitude; ao se associar ao centrão, notório antro de corrupção; ao proteger igrejas evangélicas, sabidamente – não todas, é claro! – lavanderias de dinheiro do tráfico; ao se posicionar contra a prisão após a condenação em segunda instância; ao blindar seu filho, suspeito de peculato, no STF; ao aparelhar a Polícia Federal e tantas outras atitudes indignas, Jair Bolsonaro, o maníaco do tratamento precoce, e todos que irrestritamente lhe apoiam, matam diariamente milhares de brasileiros por todo o País. Sem falar, é claro, na falta de vacinas.
O Brasil do Bolsonaro detesta povo. O Brasil do Bolsonaro detesta jacarés. Minha total solidariedade aos enlutados do Jacarezinho. O Brasil do Bolsonaro não liga também para eles. O Brasil do Bolsonaro não liga para nada que não seja o Brasil do Bolsonaro.