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31/08/2022 às 12h43min - Atualizada em 31/08/2022 às 12h43min

O MITOLÓGICO E AUDITÁVEL VOTO-BICO-DE-PENA

Por: Enio Lins
https://tribunahoje.com/
Reprodução
Outra medida do TSE a ser aplaudida: A reafirmação do veto ao uso do celular na hora do voto. A lei 9.504/1997, em seu artigo 91, proíbe terminantemente levar “celular, máquina fotográfica e filmadora para a cabine de votação”, mas tem gente que teima em desobedecer. Um dos filhotes do mito, conhecido como “Bananinha”, há quatro anos, divulgou um vídeo estimulando o gado a filmar a urna em funcionamento caso “desconfiasse” de algo.

“Auditar” é a questão. Esse é um velho desafio para o comprador de voto. Como saber se o produto foi entregue? O eleitor teria escapulido do cabresto? Essa dificuldade quebrou a cabeça do coronelismo desde que o voto-bico-de-pena foi extinto, há exatos 92 anos, quando a Revolução de 30 instituiu o sufrágio secreto, abolindo o vergonhoso ato de votar à descoberto, sob “auditoria em tempo real”, como era praticado desde os tempos do Império.

Levar o celular para a cabine é sonho dos auditores mitológicos. Basta cada rês filmar seu votar passo a passo, até o bilimbilim finalizador, daí é só mandar o vídeo para o capataz. Simples assim. Ainda circula nas redes um badalado vídeo, feito na eleição presidencial de 2018, onde o eleitor “encarca” o número 17 com a ponta de uma pistola semiautomática. A Revista Fórum publicou que esse voto teria sido disparado na Escola Estadual Maurício Brum, em São João do Meriti, Rio de Janeiro. Não se sabe o resultado de investigação sobre, nem mesmo se existiu inquérito.

O mentecapto que ocupa a presidência da República, em entrevista à Rádio Guaíba (Porto Alegre/RS) no dia 2 de agosto deste ano, disse que “uma das propostas das Forças Armadas ao TSE” seria “filmar a votação dos eleitores”, em urnas escolhidas aleatoriamente, para “quem se voluntariasse”, para que “ao final da votação” essa gravação ser conferida com os dados da urna oficial. Essa ideia de jerico, ilegal, é um coice no voto secreto e seria o retorno do voto bico-de-pena, agora em versão filmada.

No tempo da cédula de papel a fiscalização tinha de suar a camisa, se virar nos trinta para assegurar o sigilo do voto, pois os donos dos currais eleitorais inventavam a toda eleição uma mutreta nova para auditar seus eleitores, como o uso de papel carbono ou a devolução de uma cédula “zerada” para iniciar a "corrente”. O uso do celular na cabine resolveria esse dilema secular dos raptores de votos, que querem até hoje controlar e coagir o eleitorado.

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