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28/08/2022 às 09h20min - Atualizada em 28/08/2022 às 09h20min

Tabagismo causa câncer de pulmão em 80% dos casos e médica faz alerta sobre uso de cigarros eletrônicos

Camapnha Agosto Branco

Maria Luiza Lúcio* e Rebecca Moura*
https://www.cadaminuto.com.br/
https://www.cadaminuto.com.br/

A campanha Agosto Branco, que foi instituído há cincos anos, alerta para a importância da prevenção do tipo de câncer que mais causa mortes no mundo: o de pulmão. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em 2020, foram 1,7 milhão de vítimas no mundo, sendo mais de 30 mil mortes apenas no Brasil.

Ao Cada Minuto, a médica oncologista, Gabriela Monte, fala sobre os riscos do tabagismo, responsável por provocar cerca 80% dos casos de câncer no pulmão. Ela explica que além do cigarro comum, a popularização do uso dos eletrônicos também é prejudicial. Além disso, comenta sobre diagnóstico, prevenção e tratamento da doença.

Foto: Cortesia 


Cigarro eletrônico e seus riscos

De acordo com a médica, o cigarro eletrônico é um tipo de produto destinado a entregar a nicotina da folha do tabaco, na forma de aerossol, sendo alguns modelos comercializados também sem nicotina.

“O que esses produtos mostram em propagandas é que fornecem uma forma mais limpa de nicotina, mas, na prática, a maioria dos produtos disponíveis no mercado não possuem um padrão de controle para garantir isso”, afirma.

Segundo a médica, o produto contém várias concentrações de nicotina, água, aromatizantes e inúmeros outros aditivos. “Os solventes mais populares são a glicerina (geralmente de origem vegetal) e o propilenoglicol. Em altas temperaturas a indução de reações químicas e mudanças físicas nos compostos é ativada e acaba formando outras substâncias potencialmente tóxicas”.

Monte explica que essas substâncias foram encontradas em menores concentrações do que em cigarros regulares, mas são classificadas como citotóxicas, carcinogênicas, irritantes, causadoras do enfisema pulmonar e de dermatite.

“Apesar de não produzir monóxido de carbono nem alcatrão, substâncias liberadas na queima do tabaco, o cigarro eletrônico possui em sua composição diversas novas substâncias, inclusive metais pesados como o chumbo, que devem ser estudadas a longo prazo para avaliar seus efeitos tóxicos”, declara.

Devido a presença dessas substâncias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização do produto no Brasil. “E os especialistas preferem ter precaução, alertando para possíveis malefícios, inclusive para o desenvolvimento do câncer de pulmão”, diz a médica.

Além do fumo, outros fatores podem causar um câncer de pulmão

A oncologista afirma que os fatores de risco para o câncer de pulmão podem ser não modificáveis e modificáveis.

Os não modificáveis são: idade (em torno de 70 anos), gênero (homem com maior prevalência, principalmente devido ao tabaco), raça (afro-americanos com maior incidência) e histórico familiar (antecedente familiar aumenta 1,7x o risco, se de 1º grau aumenta até 4x, mas ao contrário de outros tipos de câncer não existe uma síndrome genética com maior risco).

Já os fatores de risco modificáveis são, principalmente, o tabagismo, responsável por cerca de 80% dos casos de câncer de pulmão; exposição ocupacional à asbesto, radônio, arsênico e poluição. Bem como pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) (aumenta o risco 13x) e outros fatores: inflamação crônica por causa infecciosa, inclusive viral.

Além disso, o consumo de álcool e obesidade também já foram relacionados ao aumento leve do risco em câncer de pulmão, de acordo com a oncologista. “Lembrar ainda que uma parcela da população, cerca de 25%, apresentarão a doença, mas não são tabagistas, nestes casos deve-se investigar mutações em genes envolvidos no processo de carcinogênese”.

Sintomas e diagnóstico

Para identificar a doença e diferenciá-la de outras patologias, Monte destaca que alguns pacientes podem ser assintomáticos no momento do diagnóstico, porém a maioria já apresenta algum sintoma, que pode ser: tosse, dispneia (cansaço), dor torácica e até hemoptise (eliminação de sangue durante a tosse); outros sintomas podem ser inespecíficos, como a fadiga, astenia ou febre.

“A história clínica com a investigação de antecedentes e fatores de risco, bem como o exame físico vão auxiliar no diagnóstico diferencial. Mas os exames complementares são uma ferramenta importante neste momento”, afirma.

A oncologista esclarece que, no momento do diagnóstico, de 30% a 40% dos casos já se apresentam como doença avançada ou metastática, sendo os principais sítios os ossos, pulmão, cérebro, fígado e adrenais.

“Estamos constatando nos últimos anos a necessidade de diagnóstico e estadiamento com maior brevidade e precisão no câncer de pulmão, o que melhora o tratamento, e aumenta sobrevida e prognóstico dos pacientes”, comenta.

Gabriela explica que, para o diagnóstico de neoplasia de pulmão, que corresponde a 15% dos casos e é o subtipo mais agressivo, há disponíveis métodos não invasivos de imagem como as tomografias e o PET-CT, que são usados no estadiamento inicial do doente.

“Após a suspeição de doença, a biópsia da lesão deve ser feita para o diagnóstico definitivo. Neste momento a patologia ganha papel de destaque, pois além do diagnóstico histológico da doença realiza também testes moleculares com a identificação de mutações alvo que podem direcionar o tratamento, o que tem sido o grande avanço das últimas décadas”, completa.

Além disso, ela afirma que avaliação complementar nos estádios iniciais, como da região do mediastino feita pela equipe de cirurgia torácica, é de suma importância para o melhor planejamento do tratamento.

Tratamento e prevenção

Segundo a especialista, o câncer de pulmão possui diferentes opções de tratamento a depender do estadiamento da patologia, podem ser realizadas cirurgia torácica, radioterapia e os tratamentos sistêmicos oncológicos.

“Nos estádios mais iniciais a cirurgia pode ser o único tratamento necessário e procedimentos menos invasivos vem sendo preferíveis. Nos demais casos, a combinação destas terapias é a melhor garantia de controle de doença e taxa de cura”, explica.

Monte também esclarece que, nos últimos anos, os tratamentos oncológicos sistêmicos para o câncer de pulmão vem sendo completamente mudados em virtude das novas drogas, como imunoterapia e terapias alvo, a quimioterapia (QT) vem sendo deixada como opção subsequente devido a inferioridade dos seus resultados.

“A maior mudança no tratamento do câncer de pulmão está no cenário da doença inicial, onde terapia adjuvante (pós cirurgia) com imunoterapia por 1 ano já está sendo usada no Brasil. Além disso, recentemente o tratamento neoadjuvante (pré-cirurgia) com a combinação de imunoterapia e quimioterapia foi aprovado pela ANVISA neste mês de agosto. Agora, mais do que nunca o trabalho em equipe interdisciplinar será imprescindível para a escolha personalizada do melhor tratamento no câncer de pulmão”, informa.

Ainda de acordo com Gabriela, para prevenir um câncer de pulmão, a principal e mais efetiva maneira de prevenção é a cessação do tabagismo. “Após a lei que impede o uso do cigarro em locais públicos fechados, a incidência da doença vem sendo modificada. Nos países em que a lei está em vigor há mais tempo esse impacto já mostra resultados na prática”.

Junto a isso, a médica diz que outras medidas eficazes são a diminuição de exposição à poluentes envolvidos na neoplasia, tratamento de doenças infecciosas que podem causar estado de inflamação crônica pulmonar, melhor controle da DPOC, além da mudança no estilo de vida, com hábitos mais saudáveis, boa alimentação e exercício físico.

Programa de Cessação do Tabagismo, em Maceió

Como ferramenta de combate ao câncer de pulmão, Maceió conta com o Programa de Cessação do Tabagismo, gerido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O serviço tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes em Maceió e, consequentemente, dos problemas de saúde decorrentes do tabagismo.

Conforme as informações, o Programa é ofertado em cinco núcleos instalados pela capital— II Centro de Saúde Dr. Diógenes Jucá Bernardes (Poço), UBS João Paulo II (Jacintinho), UBS Aliomar Lins (Benedito Bentes) e UBS Durval Cortez (Prado) e Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (Tabuleiro do Martins). Desde o início de seu funcionamento em Maceió, o serviço já prestou assistência a 3.603 pessoas.

De acordo com Laís de Sá Carneiro, coordenadora do Programa de Cessação do Tabagismo do município, a iniciativa tem o objetivo de reduzir  as mortes por câncer de pulmão, além das enfermidades respiratórias crônicas, cardiovasculares e para doenças transmissíveis, como a tuberculose.

Lais de Sá. Foto: Cortesia

“Com a oferta do tratamento, com o empenho de toda equipe que atua nesse tratamento, o paciente tem a chance de tratar e deixar o vício”, disse.

Ela explica que para ter acesso ao tratamento, não é necessário encaminhamento médico. “O usuário pode procurar um de nossos núcleos, levar seus documentos e o cartão do SUS. Eles serão acolhidos pela equipe, um cadastro será realizado e o paciente terá o acompanhamento necessário”, explica a coordenadora da iniciativa.

Para Laís, o programa existe para oferecer ao cidadão o direito de tratar a dependência ao tabaco. “Cada paciente que consegue largar o vício do tabaco, além desse paciente, são diversas outras vidas que se beneficiam e passam a ter também mais qualidade de vida”, conclui.

Como ter acesso?

Para ter acesso ao tratamento, o paciente não precisa de encaminhamento médico, basta ir ao Núcleo mais próximo de sua comunidade portando RG e cartão do SUS para fazer a inscrição.

No local, existe uma lista de espera e as pessoas vão sendo chamadas para os novos grupos de acordo com o surgimento de vagas. Durante a realização do cadastro, são coletados dados pessoais e são feitas perguntas relacionadas às condições de saúde e ao vício.

Sobre o tratamento

O acompanhamento tem duração de um ano e segue a metodologia proposta pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), por meio de livros que surgiram de vários estudos da experiência com câncer e doenças relacionadas ao tabaco. Os usuários também passam por avaliação médica para avaliar a necessidade de prescrever alguma medicação para auxiliar na tentativa do usuário largar o cigarro.

Os usuários contam com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e médicos.

Retorno da saúde

Um jovem, de 21 anos, que não quis ser identificado, revela que fumava desde os 17 anos, mas decidiu lutar contra o vício há 11 meses.

“Por um período de tempo eu fumei tabaco todos os dias, então decidi parar porque criei dependência e ficava incomodado com o cheiro forte”, explica.

Ele conta que sentiu consequências respiratórias após criar o hábito de fumar. “Estava difícil lidar com minha respiração, qualquer esforço físico já começava a passar mal. Depois fiz exames médicos que comprovaram a piora em doenças respiratórias que eu já tinha”, relata.

A saída encontrada por ele foi o uso de chiclete de nicotina como um dos métodos na Terapia de Reposição de Nicotina (TRN), que repõe a substância responsável pelo vício no cigarro, excluindo as que fazem mal à saúde.

De acordo com o pneumologista e docente do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL) Tadeu Lopes, garante que, apesar da exposição às mais de 4 mil substâncias tóxicas, um fumante, quando abandona do tabagismo, com o tempo, consegue ter um corpo saudável novamente.

“Os benefícios ao organismo depois de parar de fumar são vários. Depois de 20 minutos, o pulso e a pressão arterial voltam ao normal. Após oito horas, o corpo já liberou metade da nicotina e do monóxido de carbono, que prejudica o transporte de oxigênio nas células. O nível de monóxido de carbono volta ao normal depois de 12 horas, estabilizando os batimentos cardíacos, bombeando oxigênio adequadamente e estabilizando a pressão arterial. Depois de 24 horas, já diminui a chance de ter um ataque cardíaco – fumantes têm duas a três vezes mais chances de infartar”, expõe.

Além dos benefícios apontados, o médico ainda ressalta que, a longo prazo, após três meses sem fumar, há melhora no fluxo sanguíneo, na pressão arterial e na frequência cardíaca. Após um ano, o risco de problema cardíaco reduz pela metade. Passado cinco anos são diminuídas as chances de desenvolver diversos tipos de câncer. Em 10 anos, o ex-fumante tem metade da probabilidade de morrer de câncer de pulmão do que um fumante e após 15 anos, o organismo liberou todas as substâncias tóxicas e as chances de ter doenças do coração são as mesmas de quem nunca fumou.

*Estagiárias sob supervisão da Editoria


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