A nova taxa de desmate foi divulgada na manhã desta sexta-feira (12) pelo Inpe.
Os novos números deixam ainda mais consolidados os patamares altíssimos de desmatamento alcançados durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
O Deter não tem a função de mensuração precisa de desmatamento. Para isso, o Inpe possui o Prodes, sistema com maior precisão que divulga os dados de desmate computados sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte nos últimos meses do ano. Mesmo assim, a partir do Deter, cujo objetivo primário é o auxílio a operações de combate ao desmate, é possível ver se há tendências de queda, manutenção ou subida de destruição, conforme passam os meses.
E os meses amazônicos, desde o início do governo Bolsonaro, foram marcados por recordes de derrubada de floresta.
Com exceção do mês de dezembro, os recordes de desmatamento do Deter de todos os outros meses ocorreram sob Bolsonaro. Ou seja, sua administração tem quase um ano inteiro de recordes de desmate.
Só no ciclo mais recente (agosto/21 até julho/22) foram cinco meses com os números mais elevados de destruição já vistos para aqueles meses: outubro (876,56 km²), janeiro (430,44 km²), fevereiro (198,67 km²), abril (1.026,35 km²) e junho (1.120,2 km²).
Vale mencionar, porém, que o histórico recente do Deter tem início em agosto 2015. O sistema anterior possuía resolução inferior e acabou substituído.
Levando em conta dados do Deter, já foram derrubados mais de 31 mil km² de Amazônia desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. Isso equivale a, aproximadamente, mais de 720 km² de floresta indo ao chão mensalmente, o que representa mais de 450 parques Ibirapuera destruídos todo mês.
O valor é consideravelmente superior ao que se via em mandatos presidenciais anteriores. De agosto de 2015 (início do novo Deter) até o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) pela abertura do processo de impeachment, em maio de 2016 (nove meses), foram derrubados cerca de 364 km² de Amazônia por mês.
Nos 32 meses do governo de Michel Temer (MDB), já levando em conta os meses de afastamento de Dilma, foram desmatados cerca de 420 km² de Amazônia por mês.
O desmatamento na Amazônia já vinha crescendo antes de 2019, mas explodiu após a entrada de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Antes mesmo de assumir a Presidência, ainda no período eleitoral, Bolsonaro já iniciou um discurso que condenava a fiscalização ambiental e citava uma suposta "indústria da multa", nunca comprovada pelo presidente. Quando ainda era deputado federal, em 2012, Bolsonaro foi multado por pesca ilegal em Angra dos Reis (RJ). O servidor que multou o então deputado foi exonerado após a posse de Bolsonaro e a multa, considerada prescrita.
Bolsonaro chegou também a desautorizar operação de combate ao desmate em andamento. No primeiro ano de governo, conforme dados do Deter apontavam uma disparada na destruição, o presidente questionou a qualidade do trabalho do Inpe, afirmando que o então diretor do instituto, Ricardo Galvão (agora pré-candidato a deputado federal pela Rede Sustentabilidade), poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão respondeu ao ataque sofrido e acabou deixando o Inpe.
Junto ao desmatamento cresceram também as queimadas. As duas ações são interligadas: de forma geral, primeiro derrubam a mata, a deixam secar e, em seguida, no período seco da Amazônia, queimam a área desmatada.
As chamas e as derrubadas crescentes e as fiscalizações e multas no caminho contrário voltaram a atenção internacional ao Brasil, que passou a ser fortemente criticado pela atual gestão ambiental e viu reduzido o seu protagonismo na área.
Aos olhos internacionais, o desmatamento se torna um fator importante pela crescente preocupação com linhas de produção contaminadas com crimes ambientais, o que põe em risco o acordo do Mercosul com a União Europeia.
Entra em jogo também a maior aflição mundial com a crise climática. No Brasil, o desmatamento é a maior fonte de gases-estufa, responsáveis pelo aquecimento anormal no planeta.