30/04/2022 às 19h05min - Atualizada em 30/04/2022 às 19h05min
Ao contrário do que diz Globo, demissões de Chico Pinheiro e Carlos Tramontina não foram de comum acordo
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Reprodução 247 - Diferentemente do que a Globo deu a entender em notas internas, os jornalistas Carlos Tramontina e Chico Pinheiro não saíram da emissora porque queriam ou porque pediram. Celetistas que eram, foram demitidos porque ganhavam altos salários e estavam desgastados. Foram avisados em janeiro que seriam afastados após o Carnaval. O único "comum acordo" que fizeram foi um voto de silêncio: não deram um pio sobre o assunto. A Globo nega. As informações são do portal Notícias da TV.
As demissões de Chico Pinheiro e Tramontina já eram esperadas e só não ocorreram antes por causa da pandemia de coronavírus, que os afastou do trabalho presencial durante quase um ano e meio. Tramontina, de 65 anos, apresentou o último SP2 na terça-feira (26), após 43 anos de casa. Pinheiro, aos 68, foi visto pela última vez no Bom Dia Brasil na sexta-feira (29). Tinha 32 anos de Globo.
Uma fonte define a relação de Tramontina e Pinheiro (principalmente o segundo) com a Globo como um "casamento fracassado". Não tinha mais salvação, o divórcio era uma questão de tempo. Tramontina estava havia muito tempo à frente do SPTV/SP2, desde 1998, e a rede queria renovar a apresentação do telejornal --em seu lugar, acabou promovendo outro veterano, José Roberto Burnier.
Chico Pinheiro foi protagonista de uma crise interna da Globo em abril de 2019. O mesmo Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo que na sexta elencou todas as suas qualidades em e-mail de despedida, na época soltou um comunicado em que alertava os subordinados sobre o uso de redes sociais e os advertia que não deveriam expressar publicamente preferências políticas e partidárias, porque isso causa "dano" à emissora.
O e-mail foi disparado horas depois de vazar nas redes sociais um conjunto de áudios de WhatsApp em que Pinheiro fazia uma apaixonada defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que naquele momento encontrava-se como preso político. "Não se pode expressar essas preferências [políticas e partidárias] publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos", escreveu Kamel, sem citar Pinheiro diretamente. Segundo ele, a medida era necessária porque, "uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento".
A relação de Chico Pinheiro com a Globo já não era boa, tanto que no início de 2019 ele foi afastado do rodízio de apresentadores do Jornal Nacional aos sábados. Começou a cair em desgraça com a cúpula da Globo ao encerrar o JN, em dezembro de 2017, com um sonoro "saravá", saudação associada ao candomblé e à umbanda.
Apesar de todo esse contexto, a demissão dos dois profissionais ocorreu de forma amigável, em conversas gentis. O Notícias da TV apurou que Tramontina e Pinheiro até agradeceram por não terem sido demitidos durante a pandemia e por terem sido avisados três meses antes do desligamento. Em troca dessa "demissão com gentileza", eles concordaram em não falar nada para colegas ou imprensa.
Mas a principal causa das demissões de Pinheiro e Tramontina é a nova política de gestão da Globo. Eles recebiam cerca de R$ 200 mil mensais, com carteira assinada, e a orientação na emissora agora é cortar salários altos e substituir profissionais veteranos e caros por novatos baratos e produtivos.
A Globo, em seu projeto de se tornar uma media tech (empresa de comunicação com foco em tecnologia), está agindo como uma startup --que paga direitos trabalhistas, ressalte-se.
Nessa nova Globo, não existe espaço para profissionais como o produtor Robinson Cerântula, demitido em outubro do ano passado após 28 anos ajudando a emissora a dar grandes furos jornalísticos, ou para Eduardo Faustini, ex-repórter "secreto" do Fantástico.