Camila frisou que a secretaria trabalha para conscientizar a respeito das doenças masculinas, com ênfase no diagnóstico precoce do câncer de próstata. “Todas as unidades de saúde trabalham com a promoção e a prevenção, abordando diversos fatores, como: hipertensão, diabetes, câncer de pênis e pré-natal do homem”.
As unidades disponíveis em Maceió para o tratamento de câncer de próstata são os Centros de Assistência de Alta Complexidade (Cacons), atualmente na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, e o Hospital Universitário. Nesses locais, o tratamento é feito de forma individual e, a depender do estado clínico do paciente, é oferecido tratamento hormonal, quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
A SMS orienta quanto ao fluxo até o exame de toque retal, onde se observa a maior resistência para a busca ao urologista. A técnica enfatiza que o conjunto de exames, principalmente o exame do toque retal, não é demorado, é indolor e não afeta a masculinidade. Ela ressalta que os exames ginecológicos também são constrangedores e invasivos, mas as mulheres ainda assim os fazem.
“O atendimento busca conscientizar o homem de que atualmente as tarefas são compartilhadas e que é fundamental manter os cuidados com a saúde e se houver a doença e for diagnosticada de forma precoce, o tratamento é muito mais eficaz”, reforçou.
Fatores de risco
O urologista Mário Ronalsa explicou que há alguns fatores de risco que aumentam as chances de câncer de próstata. Pacientes que têm histórico familiar de parentes de primeiro grau (irmãos, pai ou filho) com câncer de próstata têm cerca de 2,5 vezes mais chance de ter a doença; se um homem tiver dois parentes com câncer de próstata, ele tem seis vezes mais chance de ter a doença.
Outras situações de fator de risco são a idade, já que, quanto mais velho, mais chances de ter câncer de próstata, e a raça negra. “Foram feitos alguns trabalhos científicos, tanto na América do Norte como no Brasil, que demonstram que os negros têm um fator genômico que apresenta o câncer de próstata em homens mais jovens”, explicou o médico.
“Esses pacientes, como são jovens, possuem uma quantidade de testosterona mais alta, portanto, têm prognóstico mais sombrio. Eles formam metástase mais cedo e evoluem para uma situação ruim antes”, relatou.
No entanto, quando o diagnóstico é precoce, há mais de 90% de chance de curar o câncer. Por outro lado, o diagnóstico tardio diminui drasticamente a probabilidade de cura do paciente.
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens entre 50 e 80 anos façam os exames preventivos uma vez por ano. Caso haja algum fator de risco, como parentes de primeiro grau com a doença ou ser negro, é necessário iniciar a rotina de exame aos 45 anos, continuando até os 80.
“Aos 80 anos, os pacientes estão com a Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino, ou seja, estão com seus hormônios caindo de produção. E para ‘alimentar’ o câncer de próstata, nós precisamos do hormônio da testosterona, que nessa fase os homens têm menos. Então eles podem morrer com câncer, mas não vão morrer do câncer de próstata”, explicou.
Tabu
O servidor público Lúcio Andrade (nome fictício a fim de preservar sua identidade), relatou que seu pai faleceu em decorrência do câncer de próstata, pois não fez os exames necessários, como o toque retal. “Meu pai morreu exatamente pelo preconceito do exame de toque retal. E existe também, por ignorância, o preconceito com aqueles que foram operados. Preconceito absurdo e que mata”.
Foi acompanhando a morte de seu pai, que nos últimos momentos de vida chegou a ficar paraplégico por causa da metástase que posteriormente tomou conta de todos os órgãos de seu corpo, que Lúcio decidiu procurar os exames preventivos da doença.
Quando foi diagnosticado com câncer de próstata, Lúcio explicou que foi uma sensação de completa fragilidade e tristeza, mas foi o diagnóstico precoce e a celeridade no tratamento que salvaram sua vida em cerca de um mês.
Lúcio deixa como mensagem aos homens que ainda não se prontificaram a tomar os cuidados necessários para prevenir a doença o mesmo que diz ao seu filho, de 40 anos: “O preconceito e negligência com a saúde e com os cuidados com os exames preventivos do câncer de próstata matam, e que a descoberta da doença em seu estágio inicial salva a vida, pois eu estou operado há exatamente cinco anos e continuo por aqui usufruindo dos prazeres da vida, principalmente o convívio com toda a minha família”.
O médico Mário Ronalsa acrescenta que o tabu envolvendo os exames de diagnóstico do câncer de próstata está cada vez mais diminuindo entre os homens alagoanos. Ele citou o Programa Nacional de Saúde para Homens do Campo, que iniciou as atividades no município de Chã Preta em 2015.
“Nesses últimos seis anos, vimos que o índice de pacientes que rejeitam o toque retal é muito pequeno. Pelo contrário, alguns pacientes que têm menos idade para indicação do toque retal se apresentam e querem fazer o exame”, explicou.
“O que ocorre, na realidade, é falta de assistência e conscientização da população, mas não é estigma”, finalizou Ronalsa.
Diagnóstico e tratamento
Os exames que são feitos para identificar o câncer de próstata são o toque retal e o Antígeno Prostático Específico (PSA). Os pacientes devem procurar anualmente as instituições, principalmente as que são credenciadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que fazem a avaliação, como a Santa Casa, Hospital Veredas e o Sanatório.
Com a campanha do Novembro Azul chegando, Ronalsa ressalta que é importante que todos dentro da faixa-etária entre 50 e 80 anos, ou 45 e 80 para quem tem uma predisposição maior à doença, se apresentem para que sejam examinados e submetidos ao exame do PSA e ao exame do toque retal.
“Esse exame do toque retal é simples, prático, barato, seguro e indolor, não leva mais do que dez segundos”, disse o médico.