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11/08/2024 às 11h27min - Atualizada em 11/08/2024 às 11h27min

Martírio de Frei Tito, imposto pela ditadura militar, completa meio século

Embora a causa de sua morte nunca tenha sido esclarecida completamente, tudo indica que Frei Tito, como se tornou conhecido, tenha cometido suicídio por não suportar as sequelas físicas e psicológicas das longas e constantes sessões de tortura a que foi submetido, entre novembro de 1969 e janeiro de 1971, período em que esteve preso pelas forças do regime ditatorial que comandava o Brasil.

Correio do Brasil - História de CdB
Frei Tito foi duramente torturado pela ditadura militar imposta ao Brasil por mais de 20 anos
Por Redação, com DW – de São Paulo
 

Depois que o frade dominicano Tito de Alencar Lima (1945-1974) foi encontrado morto por enforcamento nos arredores de Lyon, na França, em 10 de agosto de 1974, seus amigos acharam uma anotação sintomática em seu surrado exemplar da Bíblia:

“É preferível morrer do que perder a vida”.

Embora a causa de sua morte nunca tenha sido esclarecida completamente, tudo indica que Frei Tito, como se tornou conhecido, tenha cometido suicídio por não suportar as sequelas físicas e psicológicas das longas e constantes sessões de tortura a que foi submetido, entre novembro de 1969 e janeiro de 1971, período em que esteve preso pelas forças do regime ditatorial que comandava o Brasil.

“É muito importante comemorar – que significa ‘fazer memória’ – os 50 anos do martírio de Frei Tito. É uma forma de não admitir que se apaguem a história das atrocidades cometidas pela ditadura militar ao longo de 21 anos, de 1964 a 1985, e alertar as novas gerações para o risco de o Brasil voltar a perder a sua frágil democracia e, de novo, cair em mãos de neofascistas”, comenta o frade dominicano e escritor Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, que era amigo de Tito e esteve preso junto com ele.

Neste sábado (10/08), ele comanda um evento em homenagem a Tito na Escola Nacional Paulo Freire, no Ipiranga, em São Paulo.

Juventude católica

Nascido em Fortaleza, Tito começou a participar de encontros da Juventude Estudantil Católica (JEC) na adolescência. O organismo era um braço social da Igreja, com engajada preocupação política. A partir do ensino médio, passou a integrar o movimento estudantil — postura que se consolidou quando, estudante de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e já residindo na capital paulista, filiou-se à União Nacional dos Estudantes (UNE).

A essa altura, ele já havia ingressado para a ordem religiosa dos frades dominicanos. “Conheci o Tito quando ainda éramos estudantes do ensino médio, no início da década de 1960. Entre 1962 e 1964 eu era dirigente nacional da JEC e ele, dirigente do Nordeste. Várias vezes nos encontramos em encontros regionais e nacionais da JEC. E como nós dois tinham o propósito de abraçar a vida religiosa, ingressar na ordem dominicana, nos tornamos confidentes”, recorda Betto. “Entrei no convento em 1965, e ele, em 1966. A partir de 1967 passamos a conviver no convento do bairro das Perdizes, em São Paulo. Estudávamos filosofia.”

Em 12 de outubro de 1968 Frei Tito foi um dos participantes do famoso Congresso da UNE em Ibiúna. Assim como outros 600 estudantes, acabaria preso pela primeira vez, fichado, e liberado em seguida.


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