A reportagem procurou os três envolvidos: Flávio, Santini e a Nogueira Materiais de Construção. A representante do estabelecimento chegou a confirmar que fez um serviço de reforma na chocolataria, mas disse que checaria se os pagamentos foram feitos e não retornou mais. O senador e o empresário não atenderam o Estadão.
Flávio é investigado na Justiça por causa dessa loja. O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que ele usou a Bolsotini Chocolates e Café Ltda para lavar dinheiro que vinha de “rachadinhas” - prática na qual parte dos salários de assessores voltam para o bolso do parlamentar - em seu gabinete quando era deputado estadual no Rio. Na época, o MP chegou a apontar a lavagem de R$ 2,1 milhões apenas por meio da chocolataria.
A desavença entre Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini foi revelada pelo Metrópoles e teria motivos pessoais. Ao portal, o empresário disse que possuiria informações que incriminam o senador. “Se eu quiser, eu ponho o Flávio na cadeia. Com o que eu tenho na mão, ele vai preso. Sei tudo da vida dele”, disse o ex-sócio.
Os holofotes se voltaram para a chocolataria em 2020, por causa de uma inspeção feita pelo grupo CRM, proprietário de marcas de chocolate - dentre elas, a Kopenhagen, franquia à qual o estabelecimento era filiado. O estabelecimento do senador e do empresário vendia os produtos a preços menores do que o tabelado, mas lançavam os valores cheios nas notas. A prática, além de configurar crimes e ilícitos fiscais, viola as diretrizes que a companhia estabelece para franqueados.
Em fevereiro de 2021, Flávio e Santini venderam o ponto, que hoje é administrado pela própria CRM. Um mês depois, em março, o CNPJ da empresa foi baixado. Para isso, é necessário quitar todas as dívidas e pendências do estabelecimento.
Nesse meio tempo, Santini buscou se blindar das investidas do Ministério Público. Enquanto Flávio chegou a ser denunciado e colocado no banco dos réus, em janeiro de 2020 o empresário conseguiu um habeas corpus para trancar o inquérito apenas em relação a ele.
O senador conseguiu anular no Superior Tribunal de Justiça (STJ) as provas colhidas durante o inquérito das “rachadinhas”, ato que teve como efeito rebote o desmanche da denúncia. No entanto, o caso continua aberto e recebeu novas provas, vindas das investigações de fraude nas carteiras de vacinação de Jair Bolsonaro (PL) e sua filha mais velha, Laura.